sexta-feira, 21 de novembro de 2008

O NÚMERO DOZE COMO SÍMBOLO DA PERFEITA TOTALIDADE

O nosso muito querido e saudoso irmão Carlos do Nascimento, num estilo de prosa que nos habituou, sempre humilde e simples, escreveu uma prancha a que lhe atribuiu o título de “Excalibur da Pedra Bruta”, e que tanto para nosso gáudio, como para o enriquecimento do nosso saber, muito justamente, é a primeira prancha de entre outras tão belas como esta, a fazerem parte do III volume de “Pensar e Comunicar entre Maçons”.

Num texto fortemente sintetizado, e sem qualquer pretensão literária ou douta, para além do sincero desejo de acordar a nossa adormecida atenção, para os sinais profundamente maçónicos, que o realizador Jerry Zucher muito sabiamente e reptilmente, aqui e ali, soube implantar nas diversas cenas do filme “First Knight”.

Iluminado pelo saber maçónico daquele nosso ilustre irmão, hoje com lugar no Oriente eterno, e tendo também presente as imagens, o encanto e o enredo do referido filme, magicamente e estranhamente pouco tempo depois da leitura daquela maravilhosa prancha, numa noite longa e acordada, pela minha mente desfilaram os hologramas daquelas figuras míticas e lendárias, e de imediato, o meu espírito sempre dado ao romance e à aventura, ficou enamorado com a vaporosa figura da sempre bela e angélica Guinivere, ao mesmo tempo, que à semelhança do caminhante e aventureiro Lancelot, se tornava vagabundo, vadio e justiceiro, que perante o holograma do pérfido Malagant, não hesitou em se envolver em actos bélicos e outros menos confessáveis.

Transportado oniricamente para o século V, e para a lenda do rei Arthur, e dos seus doze cavaleiros da Távola Redonda, a qual, segue de muito perto os passos de Jesus, o Cristo, e os seus doze discípulos, fez com que o meu espirito aventureiro e vadio, vagueasse sem um rumo certo, por aquela desértica terra de mistério, que fora o palco do maior acontecimento da humanidade.

Assim, ao sabor dos vaporosos e oníricos acontecimentos, o número doze tornou-se um factor comum naquela escaldante e estéril paisagem, uma vez que, sucessivas imagens daquela terra que fora o berço de muitas religiões, começaram a desfilar pela minha adormecida mente, que sem uma razão aparente ou justificável, conseguiu nitidamente ver nessas imagens, os doze estandartes de Israel a saírem do Egipto, como também conseguiu ver Jacó, rodeado pelos seus doze filhos, os quais, vieram a fundar as doze tribos de Israel, como viu ainda Josué a separar as doze pedras, para nelas escrever os nomes das doze tribos que viriam a formar a nação de Israel.

Naquele confuso desfilar de hologramas bíblicos, o numero doze marcava uma presença constante e assídua nas imagens, que aos tropeções dominavam por completo todo o espaço onírico, de enredo, de aventura e de fantasia, onde, aquelas imagens desfocadas e codificadas, davam também conta de David e dos seus doze chefes das tribos de Israel, como de igual modo, davam conta do rei Salomão e dos seus doze príncipes, que os associavam definitivamente à história daquele histórico povo.

Naquela onírica vagabundagem pela lenda e pela história daquela terra de mistério e de história milenar, o espírito vagabundo, felino e curioso, ainda reparou, como os guerreiros daquela bíblica nação se organizavam em doze pelotões, e como também para aquela nação, era necessário doze homens para se poder considerar uma comunidade legal. Em fim, sempre o mágico número doze a dominar, a polarizar, e a ocupar por completo aquela mente narcotizada em enredos milenares, que num completo estado de letargia, ainda por incontável tempo continuou presa e escravizada à esfera do mítico e mágico número doze.

Naquela noite que fora o paradeiro de insónias e de oníricas aventuras, o Doze desfilou livre, a trote e sem freio pelos mitos e pelas lendas, que nesse contexto, ainda o associou aos doze pães e aos doze peixes que foram usados para o milagre da multiplicação, como de igual modo, associou aquele mágico número doze aos cestos que sobraram das bodas de Cana, que estranhamente e de modo ignóbil, aquele espírito agnóstico e sem pudor, associou tal evento, como sendo as bodas do casamento de Jesus com Madalena, talvez porque este apesar da sua crónica letargia, a lógica ainda predominava e dominava em pleno, e por isso, considerava que naqueles especiais eventos, só aos noivos cabia a responsabilidade e a preocupação de alimentarem os seus convidados, com alimentos de superior qualidade e em quantidade suficientes, por forma a que estes se sentissem felizes e satisfeitos.

Continuando no relato daquele estranho sonho, em determinada altura deste, com uma rara e surpreendente nitidez, apareceram sucessivas imagens daquele Santo homem, de pele clara e de expressão triste, que tinha por nome Jesus de Nazaré, e que inexplicavelmente naquele sonho, subitamente perdeu tanto os seus longos e fartos cabelos, como a sua maltratada barba, para nele aparecer rejuvenescido e adolescente, e com apenas doze anos de idade, interrogar os doutores do Templo de Jerusalém, que incrédulos e estupefactos pela oratória empregue, o escutavam com muita atenção e muita admiração.

Porém, um vazio no percurso da vida daquele santo Homem varreu por completo aquela mente vadia e vagabunda, dado que aquele piedoso e santo Homem só voltou a reaparecer naquele misterioso sonho, já homem, peregrino e profeta, a caminhar acompanhado de muitos mendigos e vagabundos, doentes e mutilados, cegos e infelizes, a pedincharem e a mendigarem Dele um dos seus famosos milagres, na esperança de com estes curarem as enfermidades e os males de que há muito padeciam e que por eles constantemente eram atormentados.

De entre aquela compacta multidão maltrapilha e turbulenta, do qual fazia parte um séquito de mulheres, algumas de má vida e outras com crianças esfarrapadas ao colo, o espírito vagabundo ainda descortinou a sair daquele compacto grupo, a mulher hemorrágica, que momentos depois já junto Dele, e como apenas com um único gesto da sua mão, a curou da enfermidade que padecia já há doze anos.
Espantosamente num holograma, mais à frente da torrente de piedosos acontecimentos, aquele espírito ainda viu, como a filha de Jairo, com apenas doze anos de idade, por Ele era ressuscitada, e com estupefacção e curiosidade aquele incrédulo espírito apreciou com admiração, como aquele inerte corpo ganhava vida e movimentos, para de joelhos se prostrar em oração de misericórdia e de graças.

Embora mantivesse como pano de fundo o mítico e mágico número doze, o rumo e a curiosidade daquele espírito aventureiro, em determinado momento do sonho, ficou preso a uma formação de silhuetas pagãs, que de imediato deu forma aos doze grandes deuses gregos, para de seguida se desvanecer e tomar a forma dos doze Ases, heróis divinos da tradição nórdica.

Naquela noite de insónias e acordada, ainda se seguiram sucessivos hologramas de imagens pagãs, e de entre muitas daquelas imagens mitológicas, uma houve, que deu conta dos doze trabalhos de Héracles, o qual, por aquela adormecida mente foi considerado um herói solar por excelência, dado que os seus doze trabalhos simbolizavam tanto as diversas etapas do desenvolvimento espiritual, como simbolizavam também as diversas etapas do desenvolvimento do modo do Ser, os quais, na sã e antiga astrologia, os ligavam aos doze signos, que por sua vez correspondiam às doze estações do circuito zodiacal do Sol. Talvez fosse por esta razão, que o número doze era encarado pelo adormecido espírito, como sendo um símbolo da ordem cósmica, onde o mundo para ele se representava numa lógica e numa harmonia divina.

Na manhã seguinte, ao recordar aquele noctívago e estranho sonho, considerei que este era uma mensagem codificada de estabilidade e de organização, ficando apenas o sabor da incógnita do que seria organizado e do que seria estabilizado. E tanto mais, que aquele sonho poderia ser considerado uma mensagem divina de estabilização e de harmonia, uma vez que, o Sol quando é associado aos doze signos zodiacais, sempre fora considerado como o símbolo do espírito, ou melhor ainda, sempre fora considerado como sendo o puro intelecto que apreende a verdade de modo directo e expontâneo. Por outro lado, aquele sonho também poderia ser considerado uma mensagem proveniente da inteligência intuitiva do espírito humano, uma vez que, este sempre esteve associado às coisas práticas e lógicas da vida.

Na procura, tanto da descodificação e da interpretação daquele sonho de hologramas míticos e lendários, como da interpretação do simbolismo que está associado ao número doze, e ainda na continuada descodificação das reuniões deste com a unidade, pois o décimo terceiro, será sempre aquele que encarna o princípio solar, e por tal razão, terá sempre uma relação com os outros que formam o número doze, a autoridade máxima e suprema, quer seja esta uma autoridade na esfera temporal, quer seja esta uma autoridade na esfera espiritual. E tanto mais, que a simbologia que é atribuída aos números, como a simbologia que é atribuída a algumas cenas do cristianismo, fornecem-nos um gritante exemplo para a combinação do doze mais um, uma vez que, sendo o número doze o símbolo da harmonia perfeita, dado que representa, tanto os doze meses do ano, como os doze signos do Zodíaco, e o número um representar o símbolo da unidade, do poder criador, da independência e da liberdade, que traduz a autoridade máxima. Por outro lado, na óptica do cristianismo, e em particular nas pinturas que representam a última ceia, onde a uma mesa estão sentados os doze apóstolos mais o Cristo, que é o décimo terceiro, aquele que vai morrer e renascer no terceiro dia, facto que indica ser o número treze um símbolo de transformação e do renascimento; ou melhor dizendo ainda, o número treze é aquele que encarna, no campo limitado do doze, os meios para este atingir o transcendente.

Pela descodificação analítica do sonho, o doze está presente e está associado tanto ao lendário rei Arthur e os seus doze cavaleiros, como também está relacionado a São Bernardo de Claraval, e aos seus doze cavaleiros, que fundaram a organização religiosa e militar mais poderosa da Idade Média, os Templários, que após ter sido parcialmente destruída na França de 1314, pelo infame e cruel rei Felipe, o Belo, também na forma de renascimento, aquela augusta Ordem conseguiu transferir para outros Países, nomeadamente para a Escócia, a qual veio a dar origem à moderna Maçonaria, e principalmente para Portugal, onde, através das flamas e bandeiras com a sua cruz a tremularem nos altos mastros dos seus navios em desconhecidos ventos, se tornou ente o século XIV e o Século XVI, na mais temível potência marítima, militar e financeira.
Em suma, o número doze fala-nos da ciência e da totalidade perfeita, uma vez que, Deus tanto é a perfeição na ciência, como é a perfeição no conhecimento. O número doze representa também o símbolo do equilíbrio, pois o Sol rege um dia de doze horas, e a lua reflecte o brilho deste nas outras restantes doze horas do dia, e durante doze meses em cada ano. Como ainda no mundo das energias criativas do Universo, a casa número doze, a de Peixes, significa a harmonia dos opostos, a qual, geralmente é representada por dois peixes, que simbolizam a natureza dupla deste signo, dado que por um lado este significa a dissolução final do indivíduo, no fim de um ciclo de evolução, e por outro lado, significa a potencialidade da sua reencarnação num outro ciclo. Na verdade, a Roda Zodiacal remete-nos para o Infinito, uma vez que, quando chegamos à casa número doze, depois de termos experimentado o êxtase de fluir harmoniosamente e harmonicamente com o Universo, voltamos ao início, à casa número um, a de aries, na procura continuada e sistemática do nosso aperfeiçoamento até ao dia em que nos transformamos na própria Luz sagrada.

Na senda da matemática, o doze também é o produto de três vezes quatro, sendo o três o resultado de dois mais um, e como tal, é o encontro das polaridades do masculino e do feminino com Deus, dado que o dois é o desdobramento da unidade, onde o um é activo, e o dois é passivo. Por outro lado, o número um representa o ser superior, enquanto que o dois representa o seu reflexo e a sua dualidade. Por conseguinte o três é a Trindade, a forma e o Absoluto. O número quatro representa a estabilidade, a matéria e o equilíbrio. O quatro desde os tempos mais remotos representou o mundo físico, que é composto pelos quatro elementares substanciais: terra, água, ar e fogo. O quatro representa também o número das estações do ano e das fases da Lua. Por analogia, representa também o número das partes do dia, que por sua vez, também é associado como sendo equivalente ao número de fases da vida de qualquer ser vivo. Uma quarternidade ou uma divisão em quatro partes, possui muitas vezes, uma estrutura de três mais um, que simboliza a totalidade. O doze também poderá ser o resultado da soma de sete mais cinco, representando o número sete tanto o número da criação, como representa também a soma de um mais seis, sendo este último representado por dois triângulos entrelaçados, que traduzem o equilíbrio entre a matéria e o espírito, que por sua vez, representa a unidade em equilíbrio. Sete também poderá ser o resultado da soma de dois mais cinco, sendo este último o quinto elemento, o Espírito, o qual dá a este número a representatividade da ciência que é desenvolvida pela inteligência. Sete também poderá ser a soma de três mais quatro, que representa a forma em harmonia. Por conseguinte, o sete representa, tanto o poder criador, como o número esotérico por excelência, dado que é o número que simboliza tanto a perfeição, como representa o número sagrado. Por último, em termos matemáticos, o doze também poderá ser a soma de dois mais dez, representando este último a eternidade, a Divindade e o retorno ao simbolismo do número um, o que desde logo transforma qualquer outra combinação do doze numa repetição do que atrás já fora dito.

O doze também é considerado um número mágico no “tarot” onde a sua décima segunda carta, "O Enforcado", é considerada uma carta mágica, dado que determina os limites do tempo para a nossa realidade. De igual forma, o doze também poderá ser considerado a plenitude, uma vez que, Independentemente do número de países que virão a fazer parte da União Europeia, permanecerá inalterado na sua bandeira as doze estrelas douradas sob um fundo azul, conferindo a simbologia da totalidade.

Doze, também são o número de anos que marca a distância do dia que viu nascer a Grande Loja Regular de Portugal (GLRP), como doze mais doze são também o número de anos que marcam a distância da cisão que ocorrera no Grande Oriente Lusitano (GOL), e que veio dar origem à regularidade Maçónica em Portugal, que tardava em chegar a este. A importância destas duas efemérides, é elevada, dado que marcam, tanto a criação do Distrito Português da Grande Loja Nacional Francesa (DP/GLNF), a qual, veio a dar origem ao nascimento da Grande Loja de Portugal, embrião da GLRP, como comemora também o nascimento desta última, que embora conservadora e de princípios medievais, soube se despolitizar, como também soube se reforçar, quer nos seus rituais, quer no ressuscitar da crença em Deus. Ao abrir os seus braços a todos os credos e a todas as religiões, sobe unir a espécie humana pelos laços do amor fraternal, e deste modo, sobe conferir à Maçonaria regular o cumprimento da lei básica de qualquer credo religioso válido.

Doze também é o número do registo da Loja André Roux na GLRP, da qual faço parte como seu Mestre Maçom, que talvez por estar protegida pela magia do número doze, sempre soube renascer das cinzas, como a fénix o fizera, e crescer até se transformar num baluarte da GLRP, por tal razão, aquela mítica ave, deveria ser o símbolo do estandarte daquela prestigiada Loja, uma vez que, e muito justamente, o símbolo zodiacal dos peixes já faz parte do magnífico e belo projecto de “jóia” para aquela Loja.

No próximo ano a GLRP comemorará o seu décimo terceiro ano, será que na sua comemoração prevalecerá o simbolismo do número doze mais um, e como tal esta renascerá mais forte, una e com as feridas das sisões já saradas e curadas? Esperemos que a profecia do número doze mais uma vez se cumpra a bem da Maçonaria Regular.